Esse foi o tema da Palestra Magna ministrada por Carlos Quintella, sales & marketing diretor/North America market, da Künkel-Wagner, no CONAF 2022, realizado entre os dias 13 e 16 de junho, em São Paulo (SP).
Quintella abriu o evento colocando a seguinte frase: “Os desafios de hoje são as oportunidades de amanhã”, sejam elas nos contextos técnico, financeiro, jurídico ou trabalhista.
Com base nestes termos, foi traçado um panorama considerando os principais mercados mundiais de fundição. Em 2020, a produção acumulada do segmento no mundo foi de 105 milhões de toneladas de fundidos, sendo que 11 países detiveram 90% deste volume naquele ano.
Os Estados Unidos
Segundo avaliação de Quintella, o país enfrenta uma recessão de talentos, aumento de custos e falta de matérias-primas, o que não são problemas exclusivos, mas têm se agravado a nível mundial nos últimos anos, dados os efeitos colaterais da pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia.
“Se os EUA quiserem enfrentar uma China ressurgente, precisam pensar em encontrar os melhores talentos e promover a equidade”.
Entre os motivos associados à falta de mão de obra no país, destacam-se o fato de que os empregados querem ser melhor remunerados, há uma alta demanda para que os empregos sejam “flexíveis”, além da redução do número de imigrantes no país, o que impacta na disponibilidade de mão de obra.
Outro desafio enfrentado pela fundição norte-americana diz respeito ao aumento da demanda por carros elétricos ou programas de energia renovável, sendo que 79% das fundições do país não atendem a esse mercado.
Alemanha
Recentemente, o portal Foundry Planet reportou as notícias de falências de fundições no país, o que suscitou a questão: O que está acontecendo?
No editorial de maio de 2022, Thomas Fritsch, editor chefe da publicação, afirmou: “…produtos errados e análises imprecisas sempre foram fatores das crises, mas normalmente são rotulados como um ajuste de mercado. Desta vez, é diferente…. OEMs, como a Volkswagen, anunciam planos de parar de produzir motores a combustão em um período relativamente curto, enquanto fornecedores, como Bosch, ZF, Continental e Mahle reagem rapidamente e anunciam cortes de empregos, questionando a continuidade dos negócios com seus clientes”.
Aqui observamos uma preocupação em comum entre dois grandes produtores mundiais de fundidos, à qual o Brasil também deve ficar atento. Afinal, uma projeção trazida por Quintella sugere que até 2035 mais da metade dos veículos de passageiros vendidos mundialmente serão elétricos. As fundições brasileiras estão preparadas para isso?
Na avaliação de Quintella, a fundição na Alemanha está passando por uma crise com perfil disruptivo, visto que se trata de uma mudança que a indústria automobilística nuca experimentou. “Muito do que é produzido não será mais necessário: Blocos de motor, cabeçotes, sistemas de injeção de diesel e pistões, por exemplo”.
Índia
O país também vive desafios, como a alta volatilidade de preços nas matérias-primas, incertezas no suprimento de insumos, falta de disponibilidade de mão de obra qualificada, dificuldade de atrair talentos para o segmento, falta de acesso a tecnologias atualizadas, o surgimento de tecnologias disruptivas (carro elétrico), alto custo da energia e ameaças dos países asiáticos, por exemplo.
Turquia
No caso da Turquia, Quintella listou alguns pontos positivos, que a favoreceram recentemente:
• A alta dos custos logísticos intercontinentais propiciou um aumento da produção industrial desde o segundo semestre de 2020 no país.
• As fundições aumentaram seus investimentos em equipamentos e tecnologias em 2021, visando principalmente ao aumento da sua capacidade instalada. Algumas empresas que atuam em outros ramos começaram inclusive a estabelecer suas próprias fundições. Vinte novas linhas de produção foram encomendadas na Turquia em 2021.
Entre os pontos negativos, o país enfrenta:
• Flutuações nas taxas de câmbio, que afetam os custos de produção das fundições, devido à dependência do setor de importação de matérias-primas
• Aumentos dos preços da energia e do gás natural desde 2018. Para se ter ideia, o preço do gás natural das instalações industriais aumentou mais de 80% em 2021, em comparação a 2020.
Brasil
No curto prazo, Quintella avalia que a projeção da taxa Selic de 13% em 2022 é um dos desafios enfrentados pelo Brasil, impactando diretamente no retorno do investimento.
A médio prazo, a questão colocada é: O Brasil tem condições de recuperar a posição perdida entre 1998 e 2020 no cenário mundial de fundição•
Na ilustração abaixo, temos a média da produção mundial de fundidos X Brasil, entre 2004/2010 e 2016/2020, o que mostra a perda de posição do país no cenário mundial.
Em 2020, o Brasil ocupou a décima posição no ranking mundial dos principais produtores de fundidos, tendo perdido três posições desde 2011.
No curto prazo, Quintella avalia que as fundições brasileiras têm o desafio operacional de buscarem melhores práticas.
Além, é claro, de atentarem para as tecnologias disruptivas da Fundição 4.0, que são sim capazes de aumentar a produtividade de nossas fábricas.
“Temos toda competência e condições favoráveis para participar do mercado global de forma mais significativa. A fundição brasileira avança bem em 2022, mas precisamos ficar atentos aos desafios enfrentados mundo afora, nos adaptar à nova realidade”.
As íntegras das palestras ministradas no âmbito dos quatro dias do CONAF 2022 – Congresso ABIFA de Fundição em breve estarão disponíveis em: http://www.fenaf.com.br/.
As imagens dos quatro dias de Congresso estão disponíveis em: http://www.fenaf.com.br/cobertura/.