Por: Maria Carolina Garcia*
O cruzamento de dados do IBGE e da holandesa CPB – Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis revelou que em uma década a indústria brasileira acumulou retração de (18%), enquanto a produção mundial aumentou +29% no mesmo período.
Na indústria brasileira de fundição, a queda acumulada de produção nos últimos dez anos é de (13,4%). Em 2023, exercício em que o setor recuou (9,4%) entre janeiro e setembro, não temos registro de empresas que fecharam, mas o número de colaboradores do setor caiu (3,9%) de janeiro a setembro/2023. Trata-se de uma redução de 2.484 postos de trabalho.
Com isso, a fundição é mais um setor que sofre com a desindustrialização do país.
Ao analisar a dinâmica do setor, temos alguns fatores que corroboram para este cenário.
Importações em alta
Como regra geral, o Brasil não importa peças fundidas diretamente. No entanto, fundidos são importados de forma indireta em conjuntos e subconjuntos, que incorporam peças fundidas, plásticas, forjadas, borracha, etc.
Com esse movimento, perde não apenas a fundição, como a indústria de transformação como um todo.
Por exemplo, a isenção de impostos de privilegia o estrangeiro e desincentiva o investimento na indústria local, além de corroborar para o aumento do Custo Brasil. Nesse sentido, a ABIFA comemora a volta da taxação para veículos eletrificados a partir de janeiro de 2024. Leia a matéria completa em: https://abifa.org.br/site/imposto-de-importacao-para-veiculos-eletrificados-sera-retomado-a-partir-de-janeiro-de-2024/
Em 2023, para se ter ideia, a participação de autoveículos importados (independentemente da motorização) no licenciamento registrado de janeiro a outubro foi de 14,7%. Em 2022, foi de 13,0%; em 2021 de 12,0%; e em 2020 de 10,3%. Trata-se de uma fatia de mercado que deixou de ser atendida não somente pela fundição, como por toda indústria de transformação brasileira.
Oscilações de demanda
A fundição, enquanto indústria de base, reflete as oscilações comerciais de seus clientes finais.
A indústria automotiva, que considera autoveículos (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus), e máquinas agrícolas, responde por 44,3% da demanda de fundidos no Brasil.
Em 2023, na base de comparação (janeiro/outubro), a produção de caminhões caiu (37,8%). Já as produções de máquinas agrícolas e rodoviárias recuaram (9,9%) e (20,9%), respectivamente. Estes são os principais consumidores unitário de fundidos da cadeia automotiva.
Liderando a demanda de fundidos no Brasil, esses números explicam, em parte, a retração do setor em 2023.
No entanto, a falta de visibilidade da Fundição na esfera federal onera o setor e mina a sua competitividade internacional.
Falta de Política Industrial
O atual modelo tributário brasileiro é prejudicial à competitividade da indústria nacional, elevando os custos de toda empresa, penalizando os investimentos. Com a Reforma Tributária, o Brasil teve uma grande oportunidade de avançar, mas, mais uma vez, privilegiou alguns setores, em detrimento de uma imensa maioria. Aqueles que entraram na “categoria de exceções” irão onerar o restante do país, que seguirá com uma das maiores alíquotas do Imposto sobre Valor Adicionado (IVA) do mundo. A fundição está entre os setores “prejudicados”.
Definitivamente, o Custo Brasil é o grande vilão da indústria nacional.
Enquanto o governo federal não atentar para os riscos oriundos da desindustrialização do país e para a visibilidade da Fundição enquanto indústria de base, pouco (ou nada) iremos avançar. A revisão da questão conteúdo nacional, a acessibilidade ao crédito (tanto de custo quanto de prazo), a taxação de importações e incentivos e benefícios fiscais para investir em sustentabilidade são condições sine qua non para a ReIndustrialização do setor.
Maria Carolina Garcia é assessora de comunicação da ABIFA – Associação Brasileira de Fundição |