Metade dos 23 principais setores da indústria de transformação começou a sair do fundo do coço no primeiro trimestre. De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 12 setores produziram mais entre janeiro e março deste ano que no último trimestre de 2015 descontados os efeitos sazonais. Na média,a indústria inda produziu 2,3% menos em igual comparação, mas o ritmo de queda arrefeceu – foi a menor retração trimestral desde o fim de 2014. No quarto trimestre de 2015 sobre o terceiro, a queda chegou a 4,1%, sempre na série com ajuste sazonal.
O crescimento dos 12 setores foi uma “virada”. Entre o quarto e o terceiro trimestre de 2015, apenas a produção de alimentos foi positiva. A recuperação desses setores é tímida e insuficiente para compensar a brutal queda acumulada no ano passado. Na média, a indústria produziu 11,7% menos no primeiro trimestre em relação a igual período do ano passado e apenas dois setores estão no positivo em relação a 2015 (celulose e farmacêutica).
Entre os que inverteram o sinal, destacam-se seguimentos de mão de obra intensiva e com canal na exportação ou que podem estar sendo beneficiados pela queda das importações (com eventual substituição por fornecedor local), como têxtil, calçados, móveis, produtos químicos e refino de derivados de petróleo e biocombustíveis.
Os seguimentos com produção de maior valor agregado e cuja demanda também depende de crédito, seja ao consumidor, seja para outras empresas, ainda registram queda na produção, como automóveis, máquinas e equipamentos, material elétrico, etc.
Os 12 setores co variação positiva no primeiro trimestre representam cerca de 43% do valor da transformação industrial, sendo que 13 pontos percentuais correspondem ao setor de alimentos e 10 pontos ao refino de combustíveis, sobrando 20 pontos divididos nos demais segmentos. Aqueles que aumentaram a produção no primeiro trimestre não são, portanto, segmentos indutores ou que integrem uma cadeia capaz de dar fôlego aos demais. Não são “propulsores” de atividade nos demais, como ocorre com a fabricação de automóveis, nem refletem uma indústria se preparando melhor, como a fabricação de máquinas e equipamentos.
Em segmentos como têxteis, calçados, produtos de madeiras e móveis, a desvalorização do câmbio começa a fazer diferença no comércio exterior. No primeiro trimestre, o volume exportado de produtos têxteis subiu 42% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, enquanto a de couro e calçados cresceu 15%, percentual semelhante ao de produtos químicos e de itens de vestuário, enquanto o embarque de móveis subiu 9%, segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Em todos esses setores, além do aumento da exportação, há uma queda forte do volume importado, que foi de 40% em têxteis, de 51% em vestuário e 42% em calçados e 41% em móveis, sempre em relação ao mesmo período do ano passado.
Apesar da tímida recuperação em relação ao fim de 2015 e desses resultados expressivos na exportação e na importação, todos esses setores ainda produziram menos no primeiro trimestre de 2016 em relação ai início de 2015.
Denise Neumann
Jornal: Valor Econômico