O governo lançará nos próximos três meses a política industrial que será desenvolvida ao longo do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff para tentar reanimar a economia e os empresários do setor. Ao GLOBO, o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Alessandro Teixeira, disse que a política terá dois alvos. O primeiro, de curto prazo, incluirá medidas voltadas para a melhoria do ambiente de negócios, a redução do custo de insumos industriais e a melhoria na regulação. O segundo, de médio e longo prazo, diz respeito à inovação do mercado e ao aumento da produtividade da economia brasileira.
Segundo Teixeira, as medidas a serem anunciadas não implicam aumento de gastos. A seu ver, o processo de ajuste fiscal coordenado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vão auxiliar a política industrial, ao melhorarem o ambiente macroeconômico do país. A expectativa do presidente da ABDI é que as novas medidas surtam efeito a partir de 2016 e 2017, na esteira da recuperação projetada para a economia brasileira. O resultado imediato, em sua avaliação, será a melhoria da confiança dos empresários e o consequente aumento dos investimentos.
— As medidas de ajuste fiscal auxiliam a política industrial. Eles fortalecem a macroeconomia e tornam o ambiente melhor para as políticas públicas — disse.
Com o desempenho industrial ruim por conta da crise, o governo está preocupado em apresentar respostas rápidas para viabilizar crescimento da economia.
— A crise impôs uma discussão realista e estrutural do setor — disse Teixeira.
A previsão é que o pacote de medidas seja lançado entre julho e agosto, contendo mudanças no marco regulatório do setor, direcionamento de linhas de crédito para incentivar modernização de máquinas e equipamentos e ajustes nos cursos profissionalizantes para garantir melhor aproveitamento no mercado de trabalho, entre outros.
As diretrizes da nova política foram traçadas anteontem, durante o 1º Workshop “Repensando a Política Industrial: balanço e perspectivas”, com a participação de representantes do governo e de universidades.
— Houve consenso de que tivemos políticas anticíclicas e industriais. Agora, precisamos de menos políticas setoriais e de mais transversais — afirmou o presidente da ABDI.
Ele informou ainda que a política terá sete eixos: produtividade, inovação, investimentos, melhoria do ambiente de negócios, fortalecimento das micro, pequenas e médias empresas, redução do custo de insumos de produção, como energia e infraestrutura; e aumento da participação das empresas brasileiras no programa de exportações.
Teixeira ressaltou que a participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) caiu de 15,70% para 9,11% desde 2008, quando começou a crise internacional. A nova política tem o desafio de retomar o dinamismo do setor e o seu impacto sobre a produção econômica.
No que diz respeito à produtividade da indústria, as novas ações vão desde a capacitação de mão de obra e formação até o enfrentamento de gargalos de infraestrutura. A ideia é, ainda, direcionar linhas de financiamento já existentes para a renovação do parque industrial. Outra prioridade, na visão do presidente da ABDI, é permitir que micro e pequenas empresas possam recorrer ao mercado de capitais para obter recursos necessários à expansão de suas atividades.
— Queremos permitir a abertura de capital. Há sistemas, como na Inglaterra e nos Estados Unidos, que possibilitam que uma start up saia da universidade e logo possa colocar ações no mercado — disse.
Fonte: O Globo – 09 de abril de 2015.