Após ter mais do que quadruplicado o lucro no quarto trimestre do ano passado, com impacto da venda de dois imóveis não estratégicos, o presidente da fabricante de máquinas e equipamentos Romi, Luiz Cassiano Rosolen, acredita caminhar para um 2016 talvez ainda mais desafiador do que o que foi 2015. Embora pondere que é difícil, já na largada, prever o comportamento do mercado neste ano, ele diz que a empresa continua focada na flexibilização da operação para dar respostas rápidas às oscilações de demanda.
A Romi diz que vai manter a estratégica iniciada a alguns anos de crescer sua participação no mercado externo, mas de forma “responsável”. Não há intenção de adotar uma abordagem mais agressiva para aproveitar a onda da desvalorização do real. “Não conseguimos entrar no mercado [externo] hoje porque é mais favorável e depois sair. Uma máquina precisa funcionar com excelência por 15, 20 anos e o suporte da Romi precisa estar lá por todo esse tempo”, diz o presidente.
O câmbio ainda pode ajudar, porém, melhorando os efeitos dos passos já dados no sentido de consolidar a marca internacionalmente, além de melhorar a participação do mercado da Romi frente às máquinas importadas. Rosolen considera ainda que o movimento pode ajudar a consolidar uma plataforma exportadora na indústria, que demandaria mais máquinas no ambiente doméstico.
No ano passado, a participação do mercado externo na receita operacional líquida consolidada da companhia foi de 41%, um acréscimo de 10 pontos percentuais ante 2014.
Após acumular prejuízo de R$ 15,8 milhões até setembro, a Romi reportou lucro líquido de R$ 23,1 milhões de outubro a dezembro, mais do que quadriplicando os R$ 5,6 milhões em igual período de 2014. Assim, fechou o ano no azul, com lucro líquido de R$ 7,3 milhões, pouco abaixo dos R$ 7,7 milhões de 2014.
Do montante reportado no quarto trimestre, porém, R$ 21 milhões são provenientes da venda de imóveis – um na Itália, com impacto de R$ 9,3 milhões sobre a linha final do balanço, outro no bairro da Vila Romana, em São Paulo, com efeito de R$ 11,7 milhões sobre o resultado final do trimestre.
A empresa destaca em seu balanço a geração de caixa de R$ 30,5 milhões, reduzindo a dívida líquida da companhia para R$ 72,1 milhões. Para o comando da empresa, a crise é também o momento de aproveitar as oportunidades que aparecem como investimentos em pesquisa e desenvolvimento, consolidação da marca no mercado externo, crescimento da participação no ambiente doméstico, além das oportunidades em fundição pesada.
A expectativa é de que o segmento de energia eólica continue a movimentar o mercado neste 2016. O setor aeronáutico, segundo a companhia, também foi bom, puxado principalmente pela Embraer. De acordo com Rosolen, também começam a aparecer sinais de nacionalização de peças na indústria automotiva, embora a produção esteja ainda deprimida. “Mas ainda é bastante incipiente, precisamos esperar mais para entender”, pondera.
Pesa contra a companhia um mercado interno com baixo patamar de investimento, que reduz a demanda por máquinas. A unidade de fundidos e usinados foi a única a registrar avanço no volume de vendas, na comparação anual: 22% no trimestre, para 4,1 mil toneladas, graças à retomada do segmento de energia eólica. Enquanto isso, a venda de máquinas-ferramenta despencou 82% em igual base de comparação e a entrega de máquinas para processamento de plásticos encolheu 55%.
A receita operacional líquida da companhia foi de R$ 212,4 milhões de outubro a dezembro, alta de 13%, devido à concentração do faturamento da subsidiária alemã B+W no trimestre e ao desempenho da unidade de fundidos e usinados.
Embora tenha ajudado o resultado da Romi, a subsidiária alemã teve seu desempenho impactado pelas oscilações do mercado mundial de máquinas e pela desaceleração da China, mais fortemente. Segundo o presidente da Romi, a empresa tem uma forte exposição ao país, o que ajuda a explicar parte da queda de 81,7% no lucro líquido da B+W vista no ano passado, para € 218 mil. Este ano deve ser desafiador também para esta operação, já que a perspectiva é de que a desaceleração chinesa continue.
Fonte: Valor Econômico\Victória Mantoan e Thais Carrança | De São Paulo