Page 32 - Revista Fundição & Matérias-Primas
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ENTREVISTANTREVISTA
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impacto destes processos no rendimento metálico (expansão da grafita). Já nos EUA, é comum ver o proces-
so match plate com rendimento metálico inferior a 10% a 15% em relação às melhores práticas na Europa. O
impacto negativo destes dois fatores (alto refugo e baixo rendimento metálico) são extremamente danosos aos
resultados da operação.
Quais as principais mudanças observadas no mercado de fundição nestas décadas?
Quintella: Pelo aspecto técnico, eu diria que a capacidade de simulação de várias fases do processo, a utilização
de impressão 3D, o uso de ferramentas de gestão da melhoria contínua e a automação dos processos foram as
grandes mudanças. Ademais, temos o crescimento acelerado da produção chinesa, que afetou em particular os
EUA. Hoje essa equação começa a mudar, com o “made in US” voltando a ser uma bandeira forte de marketing
das fundições, suportada por uma iniciativa chamada reshoring. Entre 2008 e 2018, outro ponto a se ressaltar é o
crescimento da produção na Índia, que duplicou (de 6,8 milhões de toneladas para 13,4 milhões por ano). No
mesmo período, a China cresceu em torno de 47% (de 33,5 milhões de toneladas para 49,3 milhões).
Como está o mercado de fundição norte-americano hoje em dia?
Quintella: Até 2015, os EUA ocupavam a segunda posição no ranking mundial de fundição, posição que perdeu
para a Índia. O forte crescimento da China e da Índia provocaram uma perda de participação no cenário global
dos EUA, mas não que a produção efetiva tenha declinado de forma representativa. Na última década, este
número tem ficado entre 10 e 12 milhões de toneladas por ano. O estado de ânimo hoje é de resistência (ainda
maior) à entrada de fundidos importados, principalmente da Ásia (China). Outra preocupação é a disponibi-
lidade de mão de obra operacional, técnica e gerencial, devido à aposentadoria de profissionais e a sua difícil
substituição.
Como a indústria brasileira é vista nos Estados Unidos?
Quintella: O Brasil é reconhecido como um grande mercado produtor de fundidos, haja vista que somos parte
das dez maiores nações no segmento, além da reconhecida qualidade do ferro-gusa. Tenho convicção, quando
comparo os mercados brasileiro e norte-americano, que temos no Brasil todas as condições de competir sem
nada deixar a dever pelo aspecto tecnológico e/ou melhores práticas. Nas minhas últimas visitas em fundições
no Brasil, fiquei muito bem impressionado com o uso de ferramentas de gestão a vista (KPI) e projetos de
melhorias continuas.
Por favor, faça um prognóstico do que deverá se a indústria de fundição num futuro próximo.
Quintella: No último encontro do World Foundry Summit, em 2018 (Itália), foi discutido o impacto do E-mobility
no setor de fundição, visto que os carros elétricos estariam afetando (por exemplo) a produção de motores
32 FMP, OUTUBRO 2020